quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Entrevista a Phil Selway E Ed O'Brien, por ocasião do lançamento de "Kid A"

Phil - ...são 15 anos de maus hábitos que estamos a tentar tirar. Estamos a tentar fazer isso...

Ed - ...demora muito tempo. Esta é a primeira entrevista que damos de há dois anos para cá.. E esta manhã precisei de um copo de álcool para ficar bem, um copo de vinho...

Phil - Esta noite nem dormi!..

Ed - Exactamente. Esquecemo-nos... de que deve ser um gozo razoável. Isto tem de reflectir-se na música. Não vale a pena continuar a fazer isso,.. Eu penso mesmo que uma pessoa da banda, se tivéssemos continuado como no "OK Computer", talvez uma ou duas pessoas já tivessem morrido aos 40. Estás a perceber? Estou a falar a sério. Foi demais. Tivemos de... Foi por causa das nossas personalidades e da forma como definimos tudo pois éramos muito direccionados. Tínhamos a banda desde 1985, isto é uma espécie de fim. Quando se chega ao nível em que não se pode descansar, tens de ser: Muito bem, vamos recomeçar de novo. Vamos pensar numa forma de continuarmos a fazer isto que seja divertida e, mais importante ainda, que a música seja criativa e diferente.

Ed - Fomos a muitos sítios. Duas semanas em Paris em Janeiro de 1999. Depois em Fevereiro e Março estivemos duas semanas em Copenhaga. Depois em Abril e Maio fizemos 3 semanas cada em Bastford House que é uma grande e típica sala de espectáculos. Depois em Setembro o nosso estúdio estava pronto para gravar. Desde então, é lá que temos estado.

Phil - Muitas das gravações têm sido feitas em locais frios e chuvosos. A primeira coisa que fazemos quando acabamos é ir ver o Sol...

Ed - Não temos tido sol nenhum. Tivemos talvez duas semanas no Verão, no ano passado, em Inglaterra, mas depois foi Paris no Inverno.

Phil - Por que é que não vamos a sítios onde os outros costumam ir? [risos] Monserrate e sítios desses...

Ed - Nas Bahamas... Lembro-me, em Paris, de estarmos a comer e disse: "Há um estúdio em Cadaqués..." não, em Figueras... Sim, em Figueras, na Catalunha... "... por que nã vamos lá?" e ele gritou e disse "se queres ir para um sítio quente, vai lá..." [risos] E então gravámos...

Phil - ...um ano depois...

Ed - Exactamente. Sabes o que é um bronzeado de estúdio? Um bronzeado de estúdio é muito amarelo, muito branco, não se vê a luz do dia durante dias. Fica bem...

Phil - É muito sexy... [risos]

Ed - Gravámos 23 canções no total durante os últimos 18 meses. Tínhamos acabado 23 canções e começámos muitas mais. É muito diversificado, tem elementos das coisas que fizemos antes... aquilo que sentimos... aquilo que determinámos. Tem os extremos daquilo que fizemos no disco. Tem coisas baseadas em teclados de computador, samples, por um lado. Por outro lado tem algumas coisas escritas, um pouco do progresso que fizemos no "OK Computer". No contexto da banda, com cordas e orquestrações. A meio, tem uma espécie de base de bateria, com uma parte de metais. O interessante é ver como tudo se encaixa.

Ed - Há uma semana disse que achava que era muito anos 70, tipo Bowie. é muito eclético, tem tudo presente. É um disco de extremos. Dissemos logo: disco muito diversificado. Pela primeira vez é um disco muito diversificado, porque foi iniciado em sítios muito diferentes... O "OK Computer" tinha um som homogéneo, a banda tinha-o certamente. Achámos que o "OK Computer" era diversificado, mas este é que é diversificado. Ainda não viram nada... [voz de gozo] [risos]

Ed - Sim, tem guitarras. Do ponto de vista da guitarra está como que esgotado. O último disco tinha tantas possibilidades. Pessoalmente falando, como guitarrista aborreci-me muito. Percebi que durante os dois meses não gravei guitarra, era teclados ou sons, coisas dessas. Agora, quando começámos a ensaiar a guitarra voltou a ser bestial. É muito excitante, muito divertido... Tem novos sons... Se não nos sentimos bem com aquilo que se está a escolher ou com aquilo que se está a fazer,.. É preciso estar-se muito entusiasmado com aquilo que se está a tocar, com os sons que se está a tirar, para se poder contribuir com alguma coisa.

Ed - Em termos de letras, o Thom está sempre a tentar avançar. Acho que, no último disco sentiu que tinha atingido o máximo que podia fazer em termos de letras. Ele faz sempre tudo com o coração... Contudo, penso que a questão é, mais uma vez, o facto de agora ser mais abrangente. Algumas das letras são bastante políticas, o que é bestial. Algumas delas estão cheias de contrastes, em que nós temos a música mas ele não tem letras. Começa a cantar o que lhe vem à cabeça. As coisas que surgem assim são muito boas, pois surgem sons, contribui-se com coisas. O Stephen Malkmus dos Pavement é muito assim. Conheces a banda? O Nigel, que produziu o nosso último disco, diz que transforma arquitectura congelada em letras...

Ed - Sempre falámos nisso e chegou o momento de voltar aos velhos "clichés". Aquilo que esperamos enquanto banda... Temos de recordar como era quando tínhamos 14, 15 anos. Éramos fãs de uma banda e íamos comprar o disco no dia um... Até podíamos só ter ouvido o single, mas confiávamos na banda, esperávmos que produzisse um bom disco. Felizmente que as pessoas reconheceram... Podemos esuqcer o primeiro álbum, porque "Creep" foi uma coisa à parte... mas aquilo que fizemos no "OK Computer"... As pessoas perceberam que estávamos a mudar, numa espécie de evolução, e estão suficientemente interessadas. Como no caso do "OK Computer", não vão perceber necessariamente na primeira ou segunda vez, mas tem uma forma, faz sentido. Isso surgirá na quarta ou quinta vez que o ouvirem. Fará sentido e espero que gostem tanto como nós.

Sol Música, 2000

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