DIFERENTEMENTE IGUAL
Costuma ser gentil o desabafo educado dos disléxicos.
Ter alguma deficiência não significa ser imprestável para a sociedade em que vivemos, que é exigente com tudo e com todos.
...
Às vezes é muito estranho saber que as pessoas que te vêem todos os
dias desconhecem tua deficiência, tão aparentemente imperceptível a olho
nu.
Não sei, oras, lidar com minha disfunção por medo de que
ela não seja bem aceita ou compreendida pelos outros; que chego a me
imaginar alvejado por brincadeiras de mau gosto que somariam mais meus
medos, que pra mim são uma matilha de cães sarnentos e famintos que me
perseguem todos os dias e noites de meus santos dias.
É amargo o gosto da convivência de vários invernos e primaveras, às vezes sem flores ou colibris.
Quero sentir-me como todo mundo que vive em seus mundinhos sem o incômodo de suas disfunções.
Mas o que fazer? Eu tenho que contribuir com a sociedade de alguma
forma, querendo ou não, que acabo me vendo igual a todos que estão ao
alcance de minha visão.
Tenho plena certeza que com, ou sem
disfunção, tenho que ser bom; ou melhor, ser excelente no que faço, para
me sentir bem, sem as paranóias que minha limitação insiste,
diariamente, em me lembrar toda manhã de sol ou chuva.
Não sou o
único ou o último que irá resistir bravamente contra alguma limitação,
pois o ser humano, por ser um bicho fabricado, como qualquer outra coisa
neste mundo, também está sujeito aos erros de fabricação.
Se eu,
mais do que ninguém, não me aceitar com todas as minhas limitações,
primeiro que qualquer um, é melhor me enclausurar do mundo e de todos.
Eu vejo uma vantagem em ser disléxico: a de que tenho de me superar,
todo santo dia; e mostrar que eu posso ser diferente para me igualar aos
ditos perfeitos.
Mas, duvido muito que exista alguém na face da terra que não tenha algum defeito.
Já escreveram uma vez os poetas Antonio Marcelo e “Rato” do POEMA: “As nossas diferenças nos tornam iguais”.
Então, sejamos, todas e todos, diferentes para nos tornarmos iguais.
Diga NÃO aos que não respeitam nossas disfunções. É que não somos obrigados a saber e aceitar tudo!
PSAR MARTINS
Belém, 01-09-11.
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